Do lado de lá do Equador!

Carnaval em Londres: isso existe?!

O pouco tempo que passei morando na capital inglesa foi um dos momentos mais marcantes da minha vida. Apesar de eu ser amante do sol e do calor (ambos quase inexistentes naquela terra), da espontaneidade e afetividade brasileiras, minha relação com a cidade foi de amor à primeira vista, um sentimento de paixão e encantamento que não se desfez até meu retorno ao Brasil e perdura até hoje.

Talvez uma das coisas que tenham contribuído para me sentir em casa num lugar tão diferente do Brasil tenha sido a miríade de culturas que se encontravam em Londres, que a tornam o que talvez seja a cidade mais multicultural do mundo. E o Carnaval de Notting Hill é uma das manifestações mais fortes dessa multiculturalidade.

Essa festa é hoje considerada o maior festival de rua da Europa, atraindo mais de um milhão de pessoas (dizem que o número foi de dois milhões em 2018) em três dias de celebração. Tudo começou em 1959, como resposta à tensão racial vivida na época entre os ingleses brancos e a enorme quantidade de imigrantes caribenhos e seus primeiros descendentes, que se estabeleceram em Londres em grandes números. Com o tempo, passou a ser uma celebração das culturas caribenhas no país e hoje em dia é considerada pelos britânicos um dos ícones da cultura do Reino Unido.

No último fim de semana e primeira segunda-feira de agosto, que é o feriado nacional (bank holiday) do Dia da Família, alguns quarteirões do famoso bairro de Notting Hill são fechados para abrigar uma festança. Várias barracas vendem as mais variadas comidas e bebidas caribenhas, dentre as quais uma raríssima de se encontrar por aquelas bandas em outras ocasiões: água de coco. Apesar de, na maioria dos dias, as temperaturas do verão inglês não terem sido suficientes para esta paulistana vivendo no Rio sair de casa de mangas curtas, os descendentes de imigrantes caribenhos me pareceram extremamente corajosos ao desfilar no carnaval de Notting Hill, dançando sensualmente em roupas que lembram muito aquelas de passistas das escolas de samba cariocas. Diferentemente do Brasil, porém, as fantasias que pouco cobrem o corpo e incluem grandes adereços de penas sobre a cabeça ou nas costas são vestidas também por muitos homens. A música não se assemelha ao samba, mas mais àquela que ouvimos no carnaval da Bahia, com muitos desfiles de grupos de percussão que lembram o Olodum. Algumas mulheres desfilam com longas saias que lembram as usadas em blocos de maracatu.

A garoa fina que é símbolo do Reino Unido muitas vezes marca presença no carnaval de Notting Hill, mas nada abala a animação dos ingleses que o frequentam. Os ritmos de dança vão do calipso ao zouk, passando por soca, salsa e alguns outros. Há carros alegóricos também, mas as maiores estrelas musicais desse carnaval são os sound systems: grupos de DJs, MCs e artistas tocando ska, reggae e outros estilos principalmente jamaicanos, onde a cultura do sound system se originou. São quase 40 a se apresentarem todos os anos.

Como não podia deixar de ser, a comunidade brasileira de Londres também se juntou a essa festa, mesmo que discretamente. Embora o carnaval tenha DNA caribenho, as escolas de samba de Londres também marcam presença por lá, tendo inclusive levado alguns importantes nomes de escolas de samba carioca a se apresentarem no evento. A matriz comum africana de todos esses ritmos americanos é facilmente identificável e elemento de união entre eles. E quem se surpreende pelo fato de haver escolas de samba em Londres ficará ainda mais surpreso ao saber que a cidade também abriga um clube do choro e noites de forró. Talvez justamente por isso, esta brasileira que escreve sente que mesmo com céu cinza, tempo quase sempre chuvoso e carnaval em agosto, Londres ainda é um pouco sua casa.

Para quem quer saber mais (em inglês)

https://www.thelondonnottinghillcarnival.com/

https://en.wikipedia.org/wiki/Notting_Hill_Carnival

https://www.visitlondon.com/things-to-do/event/9023471-notting-hill-carnival

Cristiana Coimbra: Intérprete e Tradutora

Trabalho como tradutora e intérprete desde 2002, quando me formei em Tradução e Interpretação pela Associação Alumni, de São Paulo, com Diploma Pleno. Devido à minha formação anterior como atriz e cantora, considero que meus principais diferenciais como intérprete são o cuidado com a qualidade vocal e entonações, além de minha capacidade de reproduzir fielmente a intenção, os aspectos não verbais e o estilo da comunicação do palestrante, sem abdicar da precisão no conteúdo da mensagem. Tive a honra de interpretar grandes nomes do mundo da música, das artes e do show business, como Carlinhos Brown, Criolo, Wagner Moura, Fernando Meirelles, José Padilha e o cake boss Buddy Valastro, além de acadêmicos do porte de Daniel Goleman, PhD (autor do best seller “Inteligência Emocional”), Howard Zehr (o pai da Justiça Restaurativa), Satish Kumar e diversos líderes religiosos e sociais. Sou uma apaixonada pela interpretação e por facilitar a comunicação entre as pessoas!

Revisor: Ricardo Silveira